domingo, 5 de dezembro de 2021

DENTRO DO AQUÁRIO

Era sábado. Levantou cedo, pois tinha que levar seus filhos ao colégio. Eles tinham uma apresentação a fazer. Uma feira, alguma coisa assim. Sentiu-se cansada com esse compromisso tão fora de hora. “Por que inventaram isso?” Fez tudo que tinha que fazer correndo. Tinha que sair logo. As crianças agitadas, procurando coisas de última hora. Tudo de repente desapareceu: tênis, camisa mochila - : “ai, meu Deus! me parece um massacre a vista!” Saem correndo. Na escola, ela procura um lugar para sentar. Não quer ficar desfilando vendo barracas as quais não interessavam. Nada ali não lhe interessa. Tudo tão cansativo: aquela gritaria, aquela correria, aquele som alto, mães falando sem parar sobre seus filhos. Tudo cansativo demais. Termina a feira. Seu filho vem carregando um peixe pequenino dentro de uma sacola que ganhou em uma barraca: “ céus! mas essa agora! O que eu vou fazer com esse peixe?! mas um para eu cuidar!” - mas ele estava tão feliz que ela não teve outro jeito de levá-lo junto. Pararam para comprar um pequeno aquário, pois o peixe não viveria muito tempo dentro da sacola. Escolheram um aquário pequeno, pedras coloridas, enfeite, outros peixes. Montariam uma cidade para o peixinho e dariam a para ele outros companheiros para não se sentir só. Em casa, seu marido instalou o aquário. Ficou bonito, colorido, luminoso. Colocaram os peixes e logo depois um pouco de comida. Quando a comida caiu, eles nadaram afoitamente beliscando um pedacinho aqui outro ali. Pareciam felizes em sua casa nova. “Como alguém pode parecer feliz tendo tão pouco espaço para ir e tão pouca opção?”- ela pensa enquanto observa junto da família, o nadar feliz dos peixinhos que sem saberem remexeram com o o seu íntimo tão fragilizado. “Sinto-me como esses peixinhos: sem opção. Tenho uma casa, comida, lugar para me esconder, mas não opção. Não tenho para onde ir. Ficarei eternamente girando, girando e indo para nenhum lugar!” - aquela certeza de que sua vida parecia com um aquário a fez sentir o estômago embrulhar. Um calor subiu pelo seu corpo, sentou-se. Precisava acalmar-se. Não gostou de saber que não tinha opção. Não gostou de se ver dentro de um aquário mas o seu aquário, é diferente. Ele não tem vidros que a prendem, o que a faz se sentir presa é ela mesma. A sua vida é demais para ela. Se sente sufocada , agitada, impaciente como Ser não fosse nada. À noite, sem sono, fica observando os peixinhos que diferentes dela ficam parados cada um de um lado do aquário parados, dormindo. Eles dormem e ela fica ali sentada, olhando, esperando que um faça um movimento para que a espante, a afaste dali. Eles querem dormir não querem ser observados. A hora do show já acabou. Amanhã, eles começarão a nadar de um lado para o outro fazendo cada um o seu papel e ela terá de fazer o dela: seja qual for!

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

7 de setembro

Dia da Independência do Brasil! Será? Lembro, de que quando criança, ter que participar do desfile militar. Era lindo presenciar a passagem das Forças Armadas com seus soldados em um único passo sincronizado, as bandas que os seguiam e depois as escolas, e eu estava ali junto com eles, enaltecendo um momento histórico. É fato que eu era apenas uma criança, não percebia nada de anormal no período militar. Meu pai era militar ocupando um posto graduado, então qualquer mazela que tivesse de passar, não passava, pois era filha de um militar vivendo em um governo militar. Reconheço que enquanto morava em Brasília, estudei em ótimas escolas, havia ônibus para levar e buscar. Na escola só uma coisa que não entendia: decorar os nomes, cargos e patentes dos ministros. A professora cobrava isso como se fosse conteúdo obrigatório na grade curricular. Então, eu decorava os nomes,patentes e cargos. Era tanto general que eu me perdia. Não via sentido nisso! Meu pai, como militar, só exigia uma coisa em casa :organização, mas quem mandava mesmo era minha mãe. Se a organização fosse uma espécie "toc", não sei porque não vejo isso no atual governo. Tirei a minha primeira carteira de identidade militar. Hoje, já não uso, está guardada, não por vergonha, mas por ser militar, porque agora estou do outro lado, sou contra, faço oposição em relação a coisas que me chocam! Hoje uso a civil como a maioria da população e tenho orgulho disso. Se uma grande parte da população tivesse acesso real do que acontece nesse momento, faria uma revolução para se ter um governo transparente, correto como prometido. Mas promessas borram maquiagem! Quantos mortos pela pandemia aqui no Brasil? O que o governo propõe para não aumentar esse número? Não vejo o que comemorar. A Saúde, não a temos, a Educação, é brincadeira. Comida, acham correto pagar mais de vinte reais em um único pacote de alimento? Desemprego aos montes. Se de algum modo estou me expressando contra este governo - tirem as suas próprias opiniões, só uma vez. Poderia continuar no meu "mundinho perfeito como filha de militar", mas não. Agora estou do outro lado o que sofreu com a ditadura. Sei perfeitamente o que estar do lado oposto . Vejo tanta arrogância, prepotência, "passar a mão na cabeça dos amigos, filhos e parentes" - uma desordem total. Mentiras, manipulação escancarada e a população, que precisa de uma educação de formação de conhecimento e formação de caráter; uma Saúde que atenda aos requisitos básicos - médicos e exames gratuitos, como consta na Constituição; e emprego. Esta população está cega. Posso ver isso. Vivi em um regime militar na infância, não tive que passar o que o meu marido passou, quando criança, agora eu entendo porque optei pelo certo. O que devemos comemorar hoje? Corrupção, descaradamente em todos os segmentos políticos; incompetência? arbitrariedades? falta de senso comum? até quando? Até quando um povo vai ficar enaltecendo um pseudogoverno que cala a boca por 300 ou 600 reais! Nossa! Como o brasileiro não se dar valor! Sem querer voltamos a época da escravidão onde se pagava por alguém e esse alguém tinha que fazer tudo que o senhor mandava e ficava por isso mesmo, afinal no fim do dia,tinham direito a comer restos dos seus senhores. Tá, vale a consciência de cada um. Cadê os "caras pintadas" que "derrubaram" um presidente? Levianos são aqueles que querem levar tanta vantagem que se esquecem de que quando morrerem a roupa e o caixão serão escolhidos por outros e naturalmente esquecidos. Talvez coloquem o nome numa rua qualquer, só pra constar, mas que o Maps só vai indicar que devemos dobrar à direita, nem nome vai falar. Quero esquecer esses dois anos e os futuros, não quero ser marcada como gado. "penso, logo existo", não doi pensar, mas quando a comida faltar vai doer e aí, só sinto pelas escolhas que fez! Hoje Dia da Independência do Brasil! Deixa quieto. Prefiro comemorar São Cosme e Damião porque adoça a minha boca, mas não deixa a sensação de fazer parte de uma boiada caminhando para o precipício!

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Escolher


Às vezes sou assolada por várias frases, palavras ao mesmo tempo. Elas me enlouquecem. Preciso urgentemente me livrar delas. Tirar uma por uma. Esvaziar a cabeça e a alma. Elas forçam uma saída imediata.
A frase que insiste em sair é: quero ter um filho.
Quero ter um filho. Não. Não. Não no sentido literal. Não na existência de um ser, mas tudo que se segue em torno da expectativa da chegada de um filho.
Aquela sensação de ansiedade, mas ansiedade boa. Os planos para o futuro. Tudo que envolve satisfação, felicidade, é isso, felicidade. Tudo se resume na chegada da felicidade.
Ter um filho é sinal de renovação, vida. Neste momento, preciso sentir a vida. Ter prazer em estar viva.
Preciso ser renovada, ser ressuscitada. Mas tenho medo do que pode vir.
Quero outra vida, pois tenho medo desta. Ela não me pertence. Como explicar isso? Não há explicação que outros possam entender, não é  visível. É extremamente interior. Vivo numa dualidade dilacerante. Viver ou morrer.
Viver implica em sentir tristeza, felicidade e tantas outras coisas.
Morrer implica em não sentir nada.
O que é melhor? Não sei.
Neste momento, que eu tenha a coragem de enfrentar o que escolher,  que eu saiba aceitar o nada – se o escolher- e mesmo assim ter a certeza de que escolhi viver.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

A VIDA É IGUAL PARA TODOS

A vida é igual para todos em toda a parte do mundo, o diferente é o modo como encaramos a vida.
Todos temos altos e baixos, tristezas e alegrias, sono e insônia, dinheiro e muita falta dele.
Mas o que importa é como lidamos com os problemas que surgem a cada momento do dia.
Eu não consigo lidar muito bem com os problemas. Gostaria de viver sem eles. Que eles me esquecessem. Mas a vida não é assim. Ou você resolve ou ele engorda a partir da sua negação.
Depois é difícil carregar um peso pesado a cada dia. No trabalho os problemas são normais, o anormal é quando você os leva para casa. Mas muitos podem dizer que é impossível pensar neles durante o repouso do guerreiro. Tome uma decisão, só pense ou resolva logo. Carregar para casa não dá.
Em casa temos os problemas domésticos, com marido, com filhos, com falta de água, de luz e vizinhos e tantas outras coisas que enchem a cabeça. Tome uma decisão logo, desista deles ou resolva um por um.
Às vezes, as soluções para os problemas surgirão do nada, então entre no vácuo. Fique lá (um lugar preferido teu) até a luz aparecer. Não fuja. Fugir só complica. Fugir só atrasa.
Pense num problema agora que está martelando você por dentro. Analise-o em todas as dimensões. Pense em todas as decisões que podem ser tomadas e tome-as. Elimine logo um. Depois pense no outro, e assim por diante.
Mas pense bem, depois da pedra atirada no rio, não tem como pegá-la de volta. E se pegar com certeza a pedra já não será a mesma. Trará lodo com ela, e não é mais isso que você quer em sua vida.

“A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...” (Carlos Drummond de Andrade)


sábado, 17 de março de 2012

AQUI VOU EU!

Eu tenho medo de mudar. Mudanças alteram a minha estabilidade. Mas para velejar preciso do vento. Então que as mudanças venham... suaves como a brisa que sopra a vela do meu barco: a vida.

Como sou? Sou assim transloucada e certinha, triste e alegre. Carrego a dualidade dentro de mim e em formas bem distintas. Nunca uma manhã é igual a outra e eu gosto desta característica. Um dia de sol e outro de chuva.
Nunca podem esperar nada de mim. Sou uma interminável surpresa para mim mesma e acabo surpreendendo aqueles que me acolhem, me amam e se sentem hipnotizados como mariposas em volta da luz.
Tenho luz. A minha luz que ilumina o meu caminho que não me deixa desviar de nada,. Sou corajosa quando devo ser, mas sou discreta o suficiente para “fugir” na hora certa. Sou corajosa, mas não quero ser mártir!
Tenho andando bem entre os dois mundos em que vivo. Gosto de me isolar e vivo bem perfeita solitude. Precisamos dela. Somos seres que vivemos em comunidade e estar sozinha às vezes não é um bom negócio. Traz pensamentos ruins e atitudes que fatalmente nos arrependeremos depois.
Gosto do mar, do sol, do vento forte que gostaria, às vezes, de me carregar para longe, para um lugar novo onde quiser me deixar. Serei feliz lá, é o destino que assim o quis. Não luto contra ele. Deixo o destino agir por conta própria, mas de vez em quando devemos dar uma mãozinha a ele. Ele não pode fazer tudo por nós.
Se nos coloca de frente do nosso amado, já fez o trabalho dele, cabe a nós fazer deste instante algo permanente, quem sabe dizendo de vez que “eu te amo”. Selamos o destino, fechamos o ciclo e estaremos prontos para felicidade.

DEMAIS

Autoestima. Conhece? Nâo? Eu te apresento, somos grandes amigas!
Teimosa, compulsiva é o que sou. Tudo para mim tem que ser demais. Amor demais, abraço forte demais, beijo demorado demais... só consigo ver e sentir a partir das minhas emoções que estão sempre de portas abertas. Até o meu choro pode ser demais. Sou compulsiva, certo?
Paro para pensar nessas avalanches de sentimentos que uma vez ou outra sou soterrada e acho que não há nada demais em ser “demais”. Sempre que chego todos me observam, me veem, existo. Quando saio todos me olham e vejo um mar de adeus em minha direção... e sempre aquele gostinho de “fica mais um pouco”, “vai mais tarde”, “pode dormir aqui”. Isso é bom! Demonstra que sou querida apesar dos meus “demais”. Se uma ou outra pessoa possa agir de forma falsa comigo, isso pouco me importa... há momentos que minto também... então sigo feliz acreditando naquilo que quero acreditar.
Sou assim, um pouco confesso desalinhada, mas faz parte do processo de excesso: uma linha reta nunca vou seguir porque existem outras e quem sabe uma delas poderá me dar o que invariavelmente procuro: amor incondicional, tristeza que sempre terá um fim e ser eu mesma em meio a tantas outras.

O ENCONTRO

Tomo tanto cuidado de não ser magoada que me esqueço de que as pessoas magoam sem pensar em como eu ficarei depois. Magoam e me deixam tendo que lidar com essa dor que vai arrebentando cada pedacinho do meu coração.

Eu a encontrei na rua parada olhando uma vitrine. Fiquei muito feliz, afinal não nos víamos há muito tempo. Trabalhamos juntas durante um bom tempo. Uma segurando a barra da outra. Não poderia dizer que éramos irmãs, mas colegas quase irmãs. Saí primeiro do trabalho. Tenho o temperamento muito difícil e tudo bem. Saí, fui para outro lugar e aos poucos fomos nos afastando até não nos vermos mais.
Encontrá-la naquele dia, foi demais!
Cheguei e disse um “olá” tão feliz e ela me olhou e nada aconteceu. Foi constrangedor. Tentei mais uma vez, sem muito entusiasmo, e nada. Sem reconhecimento, sem um cumprimento, nada.
Saí.
Ser esquecida é tão devastador quanto não ser vista. Você pode não querer ser vista, para não ser incomodada; mas não ser reconhecida por alguém que fez parte da sua vida, é difícil, porque te faz pensar em tudo o que aconteceu. É muita coisa para lembrar e achar um motivo para o esquecimento.
Arranjei desculpas, mas me senti magoada.
Alguns relacionamentos terminam, cada um segue o seu caminho; outros procuram ainda manter contato que aos poucos vai diminuindo. Assim é a vida. Coisas acontecem a cada hora e nos transformamos com isso.
Não sei se não fui reconhecida ou se fui esquecida. Ser esquecida é ruim. Significa que você não teve muita importância na vida da outra pessoa. Não marcou tão profundamente, só fez um risquinho que já cicatrizou e não dá nem mais para ser visto.
Não ser reconhecida é bem pior. Você não apareceu na vida da outra pessoa. Você nem marcou, nem riscou, não existiu.
Encontramos com pessoas que às vezes nem conseguimos lembrar o nome, nem de onde conhecemos, mas a reconhecemos. Elas fizeram parte da nossa vida em algum momento, deixou suar marca bem superficial, mas deixou algo em nós.
E as coisas vão acontecendo bem devagar. Primeiro nos separamos, depois aos poucos perdemos o contato e por último somos esquecidos.
Somos assim. Esquecemos ou não reconhecemos, somos imperfeitos.